Maria Tereza Lemos Costa Calil é professora, psicóloga, empresária e uma criadora que nasceu dentro da história do Gir leiteiro.
Embora ainda não soubesse disso quando criança, seu caminho estava entrelaçado ao da raça que, muitos anos depois, se tornaria a sua paixão e motivo de orgulho, assim como foi para seus pais.
A história do que viria a ser o Gir Leiteiro TÓLA, apelido e marca de Maria Tereza, começou bem antes de seu nascimento, no início do século 20, na propriedade rural de sua avó, a Fazenda 'Taquaral, no município de Patrocínio Paulista (SP). Lá, a família plantava café, até o dia que a mãe de Maria Tereza, Dona Honorina Lemos, ganhou de um tio uma bezerrinha da raça Gir. Foi paixão à primeira vista.
À ainda criança Honorina se apegou imensamente ao animal, o que lançou as bases de um grande futuro da família na raça. Anos depois, Honorina conheceu um jovem advogado da capital paulistana, que viria a ser o pai de Maria Tereza e seus quatro irmãos.
Apaixonado pela fazendeira convicta que Honorina era, o advogado Júlio Baptista da Costa Filho adquiriu a Fazenda Santa Gemma em Franca, (SP), cidade onde chegou até a montar seu escritório de advocacia; mas, com o tempo, acabou por se envolver tanto com a atividade pecuária que, por fim, resolveu se dedicar apenas a ela. Era o início de um importante capítulo na história do Gir leiteiro.
A região de Franca é até hoje considerada um dos berços da raça Gir no país, em grande parte por conta da família de Maria Tereza. À história conta que o município começou a ficar famoso nacionalmente depois da chegada do touro Gaiolão, em 1936, que veio em um das importações de Ravísio Lemos. O emblemático animal foi adquirido (do Girista João Batista de Figueiredo Costa, patriarca da Fazenda Terra Vermelha — KCA) pelo irmão de Dona Honorina, Nilo Lemos, um dos maiores conhecedores de gado da época, e seu sócio e cunhado, Júlio, ou doutor Julinho, como era conhecido o pai de Maria Tereza. Para os padrões da época, Gaiolão apresentava uma qualidade racial diferenciada, o que, em pouco tempo, transformou-o em um dos melhores da sua raça, despertando interesse nacional e chegando a valer o mesmo que vários lotes de bois gordos.
À história do touro continuaria pelos seus filhos e netos, um deles o famoso Triunfo, comprado pelo pecuarista Brasiliano Barbosa ainda bezerro, por 600 contos de réis, na mesma época em que um boi gordo para o abate valia um conto de réis. Alguns anos depois, o mesmo animal foi recompra do pelo pai de Maria Tereza por meio milhão de cruzeiros, tamanho era seu valor. Doutor Julinho e Dona Honorina organizaram uma grande recepção para o retorno de 'Triunfo. Políticos, pecuaristas de todo país, e até a banda da polícia militar foram convida dos para animar uma festa para mais de quatro mil pessoas, organizada na Fazenda Santa Gemma. Ao final da comemoração, o casal de criadores tinha comercializado em coberturas do touro o dobro do valor investido na recompra. 'Triunfo viveu por 11 anos na propriedade e acabou morrendo em 1955, vítima de um raio. Sua cabeça foi embalsamada e ainda hoje está preservada e mantida pela família, na que hoje é a Fazenda Paraíso, administrada por Maria Tereza, que na época da morte do touro tinha apenas seis anos, mas, se lembra até hoje.
Em 1979, quando o pai de Maria Tereza faleceu, sua mãe continuou criando seu tão adorado rebanho Gir até seus últimos dias de vida, em 2003. Nessa época, as terras da Fazenda Santa Germma que já haviam sido divididas entre seus cinco filhos: Maria Helena, Maria Júlia, Maria Angela, Nilo e Maria Tereza, a filha mais nova, que de sua parte fez a Fazenda Paraíso.
Abatida pela perda da mãe e dedicada a outras atividades, a caçula não pretendia continuar trabalhando com a raça, mas, seu filho mais novo a convenceu do contrário. “Meu filho Júlio sugeriu que eu preservasse alguns dos animais na fazenda, em homenagem à avó dele. Concordei, e deixei que ele mesmo escolhesse algumas”, conta a selecionadora, que, na época, trabalhava como professora e empresária do ramo imobiliário.
Através dessas treze vacas herdadas da mãe, Maria Tereza começava a trilhar a sua parte desse caminho histórico que começou com seus antecessores. Em 2004, comprou de Sílvio Queiroz Pinheiro, um touro da tradicional Fazenda Silvânia para começar a cobriras fêmeas, e logo pegou gosto pela criação. De lá para cá, Maria Tereza vem descobrindo, cada dia mais, sua vocação para ser uma legítima fazendeira, como sua mãe. Inclusive, o rebanho de Dona Honorina também é preservado por sua filha Maria Angela, assim como pelos seus netos Júlio, Gê, Túlio, Diogo e Luciana.
O criatório da Fazenda Paraíso conta com um rebanho formado através de genéticas consagradas da raça, como o próprio Gaiolão. Destacam-se no plantel matrizes doadoras, campeãs de pistas e de torneios leiteiros da melhor genética Gir leiteiro encontrada no país, entre produções próprias e aquisições dos tradicionais selecionadores das principais seleções da raça: Brasília, Calciolândia, FB, Mutum, Silvania, Kubera entre outros.
Maria Tereza mora em Ribeirão Preto (SP), mas viaja semanalmente para cuidar de seu plantel. Na fazenda, uma equipe escolhida a dedo toma conta do dia a dia, “Se existe um segredo de sucesso em qualquer negócio é que uma equipe satisfeita e bem afinada atinge qualquer objetivo. Prezo muito pela minha, que é pequena, mas altamente comprometida”, conta. Já ao contrário da equipe, a família é grande. Maria Tereza tem quatro filhos e cinco netos: Matheus (pai da Maria e Matheus José), Thiago (pai do Theo), Thomas (pai da Catarina e Isabella), e Júlio. Cada um dos filhos seguiu um rumo diferente do da mãe e dos avôs, mas mesmo distantes das atividades cotidianas da fazenda, acompanham os passos e dão retaguarda. Nos netos a criadora enxerga sua sucessão ainda distante. A neta mais nova, Maria, adora ficar no curral e brincar com as vacas; e os outros sempre aproveitam as férias na fazenda. “Eles ainda são muito novos e é difícil dizer quem poderia dar continuidade ao trabalho, mas acredito que minha paixão deve ter sido herdada por algum deles, como eu herdei da minha mãe”.
Seleção de recordes
Hoje, pouco mais de dez anos do início da seleção, o trabalho dedicado, sério e apaixonado de Maria Tereza da frutos em todo país. A marca TÓLA é reconhecida nacionalmente como parte importante da atualidade da raça Gir leiteiro. E não é para menos. Quando o assunto é recorde de produção de leite, a proprietária da Fazenda Paraíso sabe do que está falando. Nas mãos de Maria Tereza, a produção do Gir leiteiro atingiu outro patamar. Em 2012, adquiriu a vaca Bandeira do criador Clóvis Tadeu de Andrade, em um condomínio com Mila de Carvalho Laurindo e Campos. À filha de Jaguar TE do Gavião a Azaléia D5862A já tinha sido Campeã Fêmea Jovem e Melhor Úbere do Torneio Leiteiro de Passos (MG), em 2012 (em sua primeira lactação) e, após a compra, seguiu em manejo de desafio na propriedade de Maria Tereza, onde alcançou mais de 13 mil kg de leite em 365 dias. Naquele mesmo ano, a dupla de criadoras ofertou 1/3 das cotas da Bandeira no 4º Leilão Caminho da Índia, realizado durante a ExpoZebu, em Uberaba (MG), e a elas juntou-se o criador Eduardo Costa, conhecido nacionalmente por ser o proprietário do pai da Bandeira, Jaguar TE do Gavião. Mais tarde, Sergio Mello e Paulo Ricardo Maximiliano completaram o condomínio. Maria Tereza sabia do potencial da vaca, mas não deixou de surpreender-se quando, em Goiânia (GO), ainda na categoria Vaca Jovem, Bandeira quebrou o recorde mundial de produção leiteira. Surpresa maior ainda veio poucos meses depois, em Avaré (SP), quando a vaca quebrou seu próprio recorde, produzindo média dia de 63,2 kg de leite. Mas, seu auge ainda estava por vir: Bandeira tornou-se tri recordista mundial de produção de leite da raça, já vaca adulta, quando atingiu a inédita marca de 77,565 kg de leite no Torneio Leiteiro de Franca (SP), em 2015. Bandeira tornou-se o único animal Gir leiteiro do mundo a deter recordes em duas categorias diferentes: Vaca Jovem e Vaca Adulta.
Só que a história de recordes na vida da criadora da Fazenda Paraíso não termina por aí. Maria Tereza assistiu mais uma marca a ser quebrada por um de seus animais. Durante a Exposição Nacional do Gir Leiteiro (ExpoGil 2017), uma das mais concorridas da raça, promovida em Uberaba, a Fazenda Paraíso bateu seu próprio recorde. À matriz Helga FIV TOL (Jaguar TE do Gavião x Dalila TE) bateu um novo recorde mundial, atingindo a incrível média de 78,370 kg de leite/dia. “Nos primeiros recordes até pensei que podia mesmo ser sorte, mas, a essa altura, acho difícil dizer que é só isso. Vai bem mais além”, brinca Maria Tereza. “Um recorde não se fabrica e nem se elabora de um dia para o outro, é fruto de uma longa história, que começa anos e anos atrás, com a própria evolução do Gir leiteiro. Um recorde é fruto de uma criteriosa seleção de muitos criadores. À minha parte é apenas criar condições para que a genética que vem sendo apurada através de gerações, se desenvolva e se manifeste. E também muito importante respeitar os limites de cada animal, preservando acima de tudo sua integridade física. Vejo no concurso leiteiro, por ser uma forma de avaliação diferente da realidade do dia a dia, uma maneira de conhecer o potencial da raça, e de cada animal, o que colabora em muito para a atual seleção”, considera Maria Tereza, Ao final da ExpoGil, Maria Tereza estava esbanjando felicidade, tendo certeza de que todo e qualquer louro conquistado foi resultado de muito trabalho e dedicação. “A alegria de trabalhar com o Gir leiteiro é diária, mas, momentos assim nos deixam com muito orgulho, porque fica evidente que estamos caminhando na direção certa. Acredito no Gir leiteiro como ferramenta viável e indispensável para produção de leite no nosso país, e, por acreditar e amar a raça, me dedico com afinco na criação e no melhoramento genético. Daí essa combinação que vem dando tão certo: tradição, paixão e muito leite”, finaliza.
Fonte: https://online.fliphtml5.com/tobhv/seur/#p=1
Perfil – Arthur Targino
Fotos arquivo pessoal, Gustavo Miguel e ZZN Peres
Criação LMP
Copyright © 2024 - Fazenda Paraiso Todos os direitos reservados.